sábado, 25 de junho de 2011

Os 20 Anos da Revolução do Rock Alternativo e o Feitiço do Tempo


Á esquerda: Kurt Cobain empunhando sua guitarra com o Nirvana em 1991. À direita: Pe Lanza, do Restart, empunhando seu joystick para a revista Capricho em 2011. O que aconteceu com o rock nestes 20 anos?

Texto por Álvaro Freire Samways


Ano de 1991. A exatos 20 anos atrás com uma música despretensiosa e de vocais ininteligíveis chamada “Smells Like A Teen Spirit”, cantada por uma banda formada por sorumbáticos jovens advindos da chuvosa cidade de Seattle nos EUA ganharia o mundo, colocaria um novo jeito de se fazer rock no mapa e de quebra viraria a industria musical de pernas para o ar. Era o Nirvana, que junto com ele trazia uma série de outras talentosas bandas da mesma região (Seattle e arredores), tais como Soundgarden, Pearl Jam, Alice In Chains, Mudhoney entre outras para alavancar o até então ainda underground movimento “grunge” (um neologismo que, reza a lenda, foi criado por Mark Arm, guitarrista e vocalista do Mudhoney, usando a palavra “garage”(“garagem” obviamente), que era o local onde os jovens da cinzenta Seattle passavam a maior parte do seu tempo ouvindo e fazendo música) para outras esferas.


O grunge já merecia um capítulo especial na história do rock só por ter jogado no lixo toda uma geração de bandas posers e que faziam um som mais fraco que Nescau de padaria. Sim, me refiro ao “hard rock farofa” que por toda a década de 80 celebrou com suas músicas aguadas e pseudo agressivas a “genial” idéia de que a vida se resumia a andar em carrões, ganhar/gastar muito dinheiro e traçar o maior número de mulheres gostosas que se pudesse conseguir. Para isso acontecer bastava incluir no set list uma série de baladas mela cueca, do tipo “dor de corno”, para agradar justamente estas tais garotas que queriam ser traçadas por um bando de caras com cabeleiras escovadas, todo maquiados, que mais pareciam travecos de alguma “esquina maldita”. E tome bandas ridículas como Dokken, Poison, Warrant, Europe e outras aberrações. Pois então, o grunge jogou toda essa coisa deprimente no lixo. As sonoridades das bandas de Seattle (que eram compostas por gente que cresceu ouvindo Dead Kennedys, Black Flag, David Bowie e Blck Sabbath) vieram como uma antítese profunda a toda a descartabilidade conceitual do glam/hair metal farofento. E mais do que isso, o grunge promoveu o que pode ser considerado seu maior feito durante sua existência: colocou no mapa do maistream as bandas que até então eram consideadas “alternativas”, se encaixando elas ou não dentro da sonoridade que pode ser chamada de “grunge”.


O grunge ajudou a alavancar mais gente criativa e talentosa de diversos outros estilos sonoros de rock alternativo espalhados por ai, além do próprio grunge, para os quais a mídia músical não dava a mínima até então: bandas como Red Hot Chili Peppers, Faith No More, Primus, Rage Against The Machine, Kyuss, Smashing Pumpkins, Tool, só para citar alguns poucos e significativos exemplos, tinham sonoridades tão singulares que nem se quer tinham uma classificação idela para aquilo que faziam. Era rock alternativo e pronto! Apesar de os motivos de a mídia ter passado a prestar a atenção nestas bandas serem puramente financeiros, o saldo era o mais positivo possível pois estes artistas agora contemplados com a fama eram constituídos em sua maioria por pessoas que buscavam fazer arte (no caso música) acima de tudo. Basta dar uma ouvidela curta nos discos de cada uma das bandas que citei saidos naquela época para se ter a confirmação. Um rock competentemente ousado, diferenciado, verdadeiramente agressivo, que buscava misturas e abordava temas dos mais diversos, desde conflitos sociais, passando claro pelo sempre bom e velho amor, entrando em raias até de coisas inusitadas como estórias infantis (os discos do Primus além de rock alternativo de altíssima qualidade, garantem ao ouvinte boas doses de humor).


De 1991 até 1994 o rock saiu do poço de marasmo e mesmice da década anterior e passou por uma fase de criatividade e boas bandas e músicas quase incrível. Em uma época em que internet ainda era um sonho distante, as fitas K-7 do Nirvana conseguiam rodar por toda a parte (já que os cds ainda eram uma recente realidade, por isso ainda não absoluta). Porém em 1994, com a morte do mais emblemático cidadão daquela geração de músicos, o vocalista e guitarrista do Nirvana, Kurt Cobain, a cena alternativa perdeu aos poucos sua força. Novas bandas passaram a ter dificuldades de mostrar seu som, e as que já existiam foram aos poucos deixando de existir. O foco mudou de direção e o rock voltou a se enfraquecer, sendo superado pela música eletrônica e mais ainda, pela nova onda do Hip-Hop romântico (?????) que se iniciou na época. Restou para o rock a cena “brit-pop” como o major do momento, liderada pelo Oasis. A cena de rock alternativo ficou então a cargo do recém nascido movimento “new-metal”, que conseguiu trazer à luz para muita gente boas bandas que de comerciais em sua sonoridade não tinham nada, tais como KoRn, Slipknot, e a melhor daquela geração, o cultuado System Of a Down. Outra grande banda alternativa que surgiu foi o Queens Of The Stone Age, que como dissidente do Kyuss, tornou-se a única na grande mídia a representar o gênero chamado de “stoner rock”.


Porém, agora eu gostaria de entrar na real discussão e que dá título a este texto: os caminhos naturais os quais a industria da música parece sempre tentar seguir. Tal qual no filme estrelado por Bill Murray em 1993 chamado aqui no Brasil de “O Feitiço do Tempo”, onde o dia nasce, amadurece, mas após as 24 horas passadas, volta exatamente igual o eu havia sido no “ontem”, ao invés do que devia ser o “amanhã”, repetindo-se cada um de seus fatos, as coisas parecem ter se desenrolado, mas acabaram por voltar ao que eram antes da Revolução do Rock Alternativo do início dos anos 90. O rock de garagem parece ter voltado a ser “um estranho no ninho”, e o que voltou a ditar as regras são bandas pseudoagressivas e de mentalidade artistica beirando o nulo. Ao invés dos travecões maquiados dos anos 80, temos hoje seres igualmente vexatórios, também vestidos com roupas de gosto duvidoso e maquiados, mas desta vez usando acessórios diferentes, como as terríveis chapinhas (a pior invenção da humanidade depois da bomba atômica). Bandas ridículas como Paramore, Panic At The Disco, My Chemical Romance, CPM 22, Strike, NX Zero e Fresno foram só o começo de uma ditadura de destalento, picaretagem e dinheiro fácil sustentada por empresários, gravadoras e seus “artistas” inacreditavelmente ruins que hoje têm como representantes “artistas” do naipe de Jonas Brothers, McFly, High School Musical, Cine, Hori e a besta de todo esse Apocalipse, o “vergonha alheia” Restart. Some-se a estes um denominador comum chamado “público de adolescentes pouco resolvidos e sem um pingo de sede por cultura” e chegaremos ao produto final que temos hoje: um cenário de rock mainstream onde as bandas novas são intragáveis se você tem uma idade mental superior à 14 anos de idade. Não sou saudosista. Não fico querendo voltar ao passado, nem acho que “a música de antigamente era melhor”. Pelo contrário, existem bandas e artistas hoje maravilhosos, escondidos nos Myspaces menos acessados, nos barzinhos, nas igrejas, nos home studios e nas garagens desse nosso mundo injusto. O que penso sim é que hoje parece estar mais fácil do que em nenhuma outra época anterior de se fazer valer de música ruim como meio de sobrevivência. A música ruim já existia no passado, como eu bem disse, mas ela nunca havia sido de um nível tão baixo, e atingido tanta gente como nos dias atuais. Hoje temos lixo como música popular, e o “pop” de outrora passou a ser erudito atualmente. Caras como Prince, Michael Jackson, bandas como Beatles, Led Zeppelin, que antes eram consumidos pela parcela maioral das pessoas, hoje são artigos de luxo, para os ouvidos de poucos ouvintes que demonstram uma maior acuração cultural. A música popular esta beirando o completo ridículo!


Diante deste espiral que a industria musical parece sempre seguir, buscando quase sempre os maiores lucros e não dando lá muita importância para o real talento dos artistas (só assim se explica gente como Justin Bieber e Lady Gaga disputando os mais altos índices de popularidade em um mercado que um dia já teve a genialidade de Michael Jackson a seu serviço), resta a nós, cidadãos pensantes e dotados de um maior senso de cultura e arte, buscar nossos próprios artistas nos meios marginais de mídia, pois estes parecem ser a única coisa que ainda nos traz música de qualidade, pois esperar outra revolução como a provocada pelo grunge e pelo rock alternativo durante os anos 90, no tipo de cenário que temos hoje, é uma tarefa tão encorajadora quanto a de enxugar um iceberg com uma toalha.

terça-feira, 5 de abril de 2011

CDs (Se não conhece, deveria...) Karnivool



Karnivool

Sound Awake

(Cymatic Records)

2009

Certas coisas são realmente incompreensíveis. Uma delas é o fato de que, com um mar giganticamente abundante de bandas porcaria que inundam o cenário da música internacional/mundial e que são elevadas ao status de “cult” pela mídia, tais como Vampire Weekend, Maroon 5, Coldplay, 30 Seconds To Mars entre outras, uma banda genuinamente talentosa e original como o Karnivool seja uma indigente entre os meios musicais fora da Austrália (país de origem a banda e onde eles têm total reconhecimento de público e mídia). E não é por que a banda é nova não, pois foi formada em 1997 e já está na estrada desde 2001, ano do ótimo EP autoentitulado “Karnivool”, e principalmente por que o penúltimo álbum chamado Themata é maravilhoso, contendo canções épicas do calibre de “C.O.T.E.”, “Themata”, “Roquefort” e “Mauseum”, álbum este que era só uma prévia do que havia de vir no mais recente trabalho do grupo, o poderoso e incrível “Sound Awake” de 2009.


Em Sound Awake podemos perceber que Ian Kenny (vocais), Andrew Goddard (guitarra), Mark Hosking (guitarra), John Stockman (baixo) e Steve Judd (bateria) compuseram um álbum muito mais maduro, e elaborado com um cerzimento minimalista, traçando uma colcha de retalhos sonora que alterna momentos de enorme peso com outros de pura sensibilidade, tudo isso embasado pelo talento e competência enorme de cada um dos músicos envolvidos, seja na hora de tocar seu instrumento musical, seja na hora de escrever canções. E todo este clima fica evidente na primeira faixa de Sound Awake, a bela “Simple Boy”, que além de trazer bela letra e o timbre característico do vocalista Ian Kenny, nos mostra arranjos muito além do que uma simples bandinha radiofônica costuma derramar, contando com timbragens rebuscadas em todos os instrumentos. Outra que vem nesta linha é a segunda música, chamada “Goliath”, que com sua beleza nos remete ao que parece ser a fórmula do Karnivool para dar luz a canções maravilhosas: o contraste de instrumentais pesados e incomuns mergulhados numa aura progressiva, com a voz única de Ian Kenny.


Em “New Day”, a terceira do disco, a viagem vai longe, em 8 minutos de uma música que nos leva da sensibilidade ao peso em tantas doses que os ouvintes mais desavisados poderão ficar atordoados. Na próxima, “Set Fire To The Hive”, ouvimos um Karnivool mais objetivo e pesado, soando como os melhores momentos instrumentais do Nine Inch Nails, só que com um vocalista bem mais capaz do que o “rasgador” Trent Reznor. Já em “Umbra”, o que se nota é novamente a volta do “peso sensível”, com uma letra belíssima, e um arranjo que deixa claro que a combinação “competência técnica + musicalidade” é perfeitamente possível, basta discernimento por parte de produtores e capacidade e bom gosto por parte de músicos.


Mas nada do que foi ouvido antes poderia nos preparar para a próxima faixa, “All I Know”, simplesmente uma das músicas mais espetaculares e estranhamente lindas de todos os tempos. Usando de efeitos impensados sobre uma estrutura simples (para os padrões Karnivool), e contando com um vocal perfeito, esta canção é uma jóia de valor inestimável, prova de que o Karnivool é sem dúvida a melhor banda australiana de todos os tempos, anos luz a frente de AC DC ou Silverchair, e de que eles merecem fazer história tanto quanto (ou até mais) o que estas duas já fizeram.


Para dar uma abaixada na poeira depois do final emocionante de “All I Know”, a curtinha “The Medicine Wears Off”, que na verdade serve mais de interlúdio para a segunda parte do álbum, composta por quatro musicas grandes e densas. A primeira delas é obscura “The Caudal Lure”, que deixa claro o por que de Steve Judd poder ser considerado um dos bateristas mais habilidosos e competentes na hora de criar um groove, soando como a equilibrada mistura de Josh Freese e Vinnie Colaiuta, tudo única e exclusivamente a serviço desta música incrível. Já em “Illumine” as coisas soam mais claras, mas jamais a ponto de tornar esta uma música óbvia, sendo esta uma música que nos lembra as canções do álbum Themata.


Chegamos as duas últimas músicas do cd, duas composições que ultrapassam os 10 minutos cada uma e que rompem com qualquer sinal de preocupação em relação aos meios de mídia e com uma roupagem pop. A primeira delas é “Deadman”, uma música que é o símbolo máximo da sonoridade do Karnivool, misturando vários clímax e fazendo-os soar tão naturais que até parece fácil compor algo tão complexo. Legal é a “musiquinha” escondida ao final desta faixa, que soa mais como uma intro para a última faixa do disco, a poderosa “Change”, que é uma parte 2 da música Change iniciada no álbum antecessor Themata (alguém ai lembrou de Unforgiven do Metallica?). Esta música lembra muito os melhores momentos do Tool na fase AEnima, porém com um clima menos soturno, vindo a fechar com chave de ouro este trabalho magistral do Karnivool.


Sound Awake é um discasso, daqueles que ultimamente anda difícil de se encontrar por ai, sendo mais uma prova de que devemos mesmo é correr atrás de cultura por nós mesmos, e não esperar pelas porcarias que os meios de comunicação estão tentando nos empurrar como “a melhor banda dos últimos tempos”, e com o Karnivool nos dando mais uma vez uma amostra de que merece muito mais do que simplesmente reinar na Austrália da forma que reinam (como se isso fosse pouco). Se não escutou a banda, vai lá e escute, por que vale muuuuuuito a pena, te garanto.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A Volta Dos Mortos Vivos


Texto por Álvaro Freire Samways

Nesta semana de fevereiro eu queria escrever sobre algum outro assunto, algo diferente da onda carnavalesca reinante nesta época do ano, mas não teve como. Não há como fugir desta vergonhosa mediocridade nacional. Todo ser que estiver dentro do território brasileiro terá de alguma forma contato com a “festa símbolo brasileira”. Tal como um Dom Pedro I exilado em uma ilha deserta tentando abrir uma lata de sardinhas com uma faca de plástico, sei que durante alguns dias, vou tentar escapar da verdadeira ditadura televisiva imposta pelo Carnaval, e que não vou conseguir. Tenho total consciência de que serei nocauteado por bordões imbecis, proferidos por exércitos de exibicionistas, todos ansiosos por uma suruba que nunca se concretiza. Serei submetido a grotescos espetáculos de alegria descartável, sem vida, provenientes de gente cujo maior talento é exibir cirurgias plásticas (algumas invejáveis, outras semelhantes a serviços de borracharia mal feitos), sem um pingo de autenticidade, sem o menor resquício de emoção sincera.

Não tenho nada contra a exposição de um belo corpo feminino nu (muito pelo contrário!), desde que ele venha acompanhado de uma aura de sentimento, de sensibilidade, de sensualidade e beleza. Mas não há espaço para algum sentimento que preste em avenidas salpicadas de pessoas mortas por dentro. O que resta ali é um festival de repugnância proporcionado pelas emissoras de TV. É duro admitir, mas a burrice parece ter se tornado item de cesta básica. O Brasil conseguiu a proeza de profissionalizar a idiotice!

O Carnaval atual é um evento que nada tem a ver com foliões. Hoje ele pertence a empresas, fabricantes de cervejas, socialites deformadas pelo excesso de botox a ponto de que seus rostos se pareçam com as máscaras vendidas nessa época do ano em camelô, celebridades emergentes de 97ª categoria, playboys babacas, ex participantes de reallity show, garotas de programa disfarçadas em atriz e modelo… É para essa turba falsamente animada que a festa do Rei Momo (quem?) existe hoje. O tumulto resultante é o espelho fiel do que o Brasil se tornou. Para os turistas estrangeiros, somos alegres bufões, sorridentes mesmo quando sabemos que estamos mergulhados na ignorância, que temos um governo descaradamente corrupto e falido, e que milhares de crianças morrem como moscas porque não têm o que comer. Na verdade, no fundo da alma, essa cambada de “ex-BBBs da vida real” se comporta como palhaços desdentados, subnutridos de inteligência e bom senso. As pessoas se tornaram prisioneiras da imagem daquilo que se espera delas.

O Carnaval é um retrato cheio de purpurina da realidade na qual estamos inseridos: tumultuado, confuso, artificial, violento, narcisista, louco (no pior sentido da palavra), bruto e patético. E o problema principal nem é o Carnaval, mas sim o que ele espelha.

Não, não tenho saudade do passado, mas percebo que, em um tempo não muito distante, vivíamos de uma maneira mais cordial e sincera, mesmo quando nosso espírito mambembe se confrontava com o início de uma nova ordem, que determinaria que só a exibição contínua e a qualquer preço seria o caminho para uma “carreira de sucesso”.

O que me pergunto é: por que existe tanta gente disposta a fazer qualquer coisa para ganhar dinheiro e/ou aparecer na TV? A resposta pode estar no fato de que essa imensa massa de imbecis está totalmente desiludida com os benefícios que a aquisição de cultura pode trazer ao espaço vazio que existe entre as suas orelhas. A vara de idiotas prefere o caminho mais fácil, que passa pelo constrangimento de expor suas vergonhas intelectuais e físicas em cadeia nacional. É muito mais fácil mostrar a bunda em frente as câmeras do que ler, estudar, amadurecer um talento, lapidar todos os dias uma competência.

Como é possível fazer germinar a cultura de um país por meio da massificação? E quando escrevo “cultura”, me refiro também à arte, e em especial à música, um dos principais combustíveis para nossa existência. Como acreditar na musicalidade de um Carnaval em que os samba-enredos se resumem todos à mesma coisa, a ponto de você nem mais reparar caso a Mangueira decida colocar um chimpanzé para ser seu “puxador” (é assim que se chamam os vocalistas desses sambas) após a morte do Jamelão? Isso para não tecer comentários sobre as aberrações vindas da Bahia para agredir nossos já tão castigados tímpanos.

Fazer parte do Carnaval hoje é trabalhar como um macaco de realejo perante uma platéia cheia de zumbis sorridentes. Se isso é o que você chama de “alegria popular”, vá fundo. Mas depois não diga que eu não o avisei…

Em sua opinião, o Carnaval é uma festa cultural ou apenas uma passarela para gente sem talento?

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

E Agora, Quem é Que Paga o Cinema???


Texto por Álvaro Samways

O cinema brasileiro, que sempre foi conhecido pela falta de infra-estrutura e por dar luz a películas no mínimo horrorosas, vinha dando mostras de que poderia muito bem reverter este rótulo, com sucessivos bons lançamentos nos últimos tempos, tais quais O Homem Que Copiava, Meu Nome Não é Johnny e claro o comentadíssimo Tropa de Elite. Além de uma ótima nova safra de diretores e roteiristas despontando. Já no passado ano de 2010, além da continuação do já citado Tropa de Elite, com Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro, tivemos notícias sobre o filme nacional que promete ser o mais novo sucesso de bilheteria nos quatro cantos do Brasil: Bruna Surfistinha – O Filme. Mas o que se esperar deste, que chega ainda no primeiro semestre de 2011 as telonas (seja dos cinemas, seja das casas, em dvds piratas que serão rodados nas cada vez maiores tvs de plasma)?

Bom, primeiramente cabe dizer que Bruna Surfistinha – O Filme, será baseado no livro best-seller (expressão que numa tradução adaptada ao português significa algo como “um dos mais vendidos”, mas que na minha opinião poderia ser traduzido como “lixo para ignorantes metidos a intelectuais”) escrito por Raquel Pacheco, O Doce Veneno do Escorpião, um livro que diz-se ser um diário não fictício de sua vida, encarnada como a prostituta conhecida como Bruna Surfistinha (personagem que ficou famosa antes do livro por possuir um blog onde relatava suas aventuras como meretriz na noite paulistana). Este livro, que chegou a soma de 250 mil exemplares vendidos, teve lançamento não só no Brasil, mas também em Portugal (deve ter sido esse um dos agravantes para que José Saramago viesse a falecer) e Espanha. No livro ela relata que foi adotada, e que mesmo nunca tendo falta de bens matérias e gozando (no bom sentido é claro, pelo menos ainda) de boa educação, em colégios particulares de São Paulo como o Bandeirantes, o Objetivo e o Augusto Maia em Sorocaba, ela decidiu fugir de casa aos 17 anos de idade, usar drogas e prostituir-se. Em um dos trechos do livro ela diz: "Transas enlouquecidas, surubas, muitos homens (e mulheres) diferentes por dia, noites quase sem fim. O que pode ser excitante para muitas garotas como eu, na efervescência dos vinte anos, para mim é rotina. É meu dia-a-dia de labuta", o que já aponta ai uma contradição, pois ao mesmo tempo em que ela afirma ter buscado essa vida por escolha própria e por achar interessante, já que nunca lhe houve falta de nenhum bem em sua vida de classe média, ao empregar o termo labuta (derivado do latim labor, laboris, e que significa “luta, trabalho, esforço pelo qual busca-se sobrevivência) ela deixa claro que faz tudo isso por que é sua fonte de renda, seu meio de subsistir. Ta aí uma idéia do que poderá ser assistido a partir do dia 25 de fevereiro caso você decida prestigiar um filme baseado em um livro de gosto tão duvidoso.

Para tentar elevar o nível um pouco, já que o livro do qual será extraída e adaptada a história do filme não tem muito gabarito para que possa ser chamado de literatura, o elenco que encabeçará a história nas telas dos cinemas será composto com o papel principal estrelado pela atriz Déborah Secco (Meu Tio Matou Um Cara), e com as participações de outros nomes conceituados como Cássio Gabus Mendes (Chico Xavier), Drica Moraes (Os Normais 2 - A Noite Mais Maluca de Todas), Cristina Lago (Olhos Azuis), Fabiula Nascimento (Estômago), Guta Ruiz (Encarnação do Demônio) e Juliano Cazarré (Vips). A direção fica a cargo do estreante Marcus Baldini e o roteiro por Karim Aïnouz. Tudo isso para tentar salvar um pouco este filme, que está sendo pago por mim e por você amigo leitor. Sim, é isso mesmo, nós, cidadãos de bem, honestos carneirinhos pagadores de impostos estamos patrocinando o filme sobre a vida de uma prostituta vocacional!!! Você deve estar se perguntando neste momento: “Como assim, eu estou pagando???”. Bem, eu explicarei então o que esta acontecendo nesta casa de mãe Joana (que também pode ser chamada de Brasil caso assim você prefira).

Bruna Surfistinha O Filme, foi aprovado pelo Ministério da Cultura, e receberá subvenção do estado pela Lei de Incentivo à Cultura (mesmo que ao meu ver surubas e overdoses não sejam lá uma coisa muito cultural), numa quantia prevista para 4 milhões de reais. Quatro milhões de reais retirados dos cofres públicos para patrocinar um filme que retrata a vida de uma garota que recebeu o que de melhor havia na vida em sua juventude, mas mesmo assim preferiu adentrar pelo caminho das drogas e da prostituição. Quatro milhões que saem dos bolsos de cada um de nós que pagamos impostos de até 45% sobre qualquer coisa que compramos, e que na hora de vermos sendo revertidos em um direito nosso garantido pelo Artigo 215 da Constituição de 1988, que é o acesso ao lazer e a cultura, vemos é caindo nas mãos de um monte de gente oportunista, fazendo um filme para fechar com chave de ouro o show da auto-promoção a nível de “celebridade” e “pessoa famosa” iniciado por uma garota que não tinha talento nenhum, mas que queria ser famosa a qualquer custo, e para isso decidiu expor suas vergonhas para um publico tão privado de inteligência quanto ela. Já não bastava o patrocínio que a mesma Lei de Incentivo a Cultura deu (usando claro nosso dinheiro), para artistas caras de pau como Gilberto Gil, Gal Costa, Ivete Sangalo e outros que mesmo tendo dinheiro e uma carreira consolidada, decidiram usar do “jeitinho brasileiro” e usufruir de amparo estatal para custear seus projetos musicais milionários (como se as contas bancárias deles assim já não o fossem), retirando o dinheiro que deveria ser revertido para artistas amadores ou de poucos recursos financeiros custearem suas obras, agora teremos ainda um filme deste, que vem para interromper uma seqüência de bons filmes nacionais que vinham sendo lançados, sendo pago pelo nosso dinheiro.

Mesmo com a certeza de que este filme será um lixo completo, ainda acredito que ele fará enorme sucesso de bilheteria, pois num país onde a mesquinhez e a falta de tato é tamanha a ponto de fechar o Cinema Belas em São Paulo, após 68 anos de uma contribuição incalculável para a sétima arte e por ter como fama rodar filmes que nada tem de famosos, lucrativos e de “mudérrrnus”, mas que são eternas obras de arte ("Bicicletas de Belleville", dirigido por ficou Sylvain Chomet, ficou por 2 anos em cartaz somente por que é ótimo), é esperado ainda que tenhamos a caricatura horrorosa dessa tal Bruna Surfistinha lembrada por gerações após um filme que encarregou-se de homenagear toda a “contribuição artística e intelectual” que ela prestou a nossa população. E o pior, pago pelo dinheiro do meu e do seu bolso, meu caro e pensante leitor. Corta !!!!!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

BBB Brasil: o show da realidade ?!?!?


Texto por Álvaro Freire Samways

Juntamente com a expectativa pela década de 2000, outra coisa invadiu os lares das pessoas que viram a mudança de milênio acontecer: a explosão de popularidade dos programas chamados Reality Shows. Neste tipo de programa o foco a ser captado como atração é diferente dos programas tidos como tradicionais. Ao invés de veicular ao expectador algo ensaiado por artistas e que segue um roteiro, os Reality Shows buscavam justamente o contrário, mostrar o comportamento humano de forma espontânea, em situações de convivência com outros seres humanos.

Hoje em dia podem-se contar vários formatos deste tipo de programa, de um grupo de pessoas desconhecidas confinado dentro de uma casa; Pessoas buscando o status de ídolo musical; O acompanhamento do dia a dia de trabalho em algum tipo de serviço arriscado (como bombeiros ou policiais); O grupo de pessoas numa praia deserta no meio do nada, e até mesmo o caso bizarro do reality show vivido por Ozzy Osbourne (que teve câmeras instaladas em sua casa para que seu dia-a-dia de excessos e brigas de família pudesse ser acompanhado por milhares de pessoas ao redor do mundo), só para citar alguns exemplos.

Mas lá nos primórdios dos 2000, quando este tipo de programa surgiu, o formato adotado era um só, apenas com variâncias de nome entre as 36276 versões promovidas por canais diferentes, mas que na real se tratavam era da mesma coisa: o grupo de pessoas totalmente desconhecidas da mídia ou não, confinado dentro de uma casa luxuosa e equipada com câmeras, com cada participante lutando para ser o último a sair da casa e assim receber o prêmio milionário. E os “da poltrona” claro, podiam acompanhar os trechos da convivência diária dos participantes que eram selecionados pela emissora e veiculados no horário oficial do programa ser exibido (os mais assíduos expectadores podiam então comprar a versão pay per view e assim acompanhar 24 horas esses programas). Os mais conhecidos dessa primeira geração de reality shows pelo povo brasileiro foram o “megapoderosomultinacional” Big Brother, com seus direitos de promoção e veiculação em mídia comprados pela Rede Globo (que surpresa, não?!), e a cópia nacional feita pela emissora do “Homem do Baú”, o SBT, a na época também famosa Casa Dos Artistas, que de diferente do Big Brother, só tinha o fato de que seus participantes eram celebridades de segunda linha, como as mega gostosonas Tiazinha e Feiticeira (se você era adolescente na época em que Luciano Huck não era ainda um a atração das tardes de sábado da Globo você sabe muuuito bem quem elas são), o ator/cantor (por favor não leve essas palavras a sério) Alexandre Frota, e o hiper canastrão filhinho de “papito” Supla, além de atores que nadavam no mar do ostracionismo e do limbo, como a até então indigente atriz Bárbara Paz. Um fato curioso é que a Endemol (empresa responsável pelo Big Brother e sua vendagem de direitos ao redor do mundo) acabou gostando da idéia de Sílvio Santos, tanto que no mesmo ano de 2000 criou uma variação de sua atração, o “BBB Vip”, que tinha seu cast composto somente por artistas, e que acabou sendo exibido na Holanda.

Eu estava a ver um filme na televisão quando um comercial me informou que a 11ª edição de BBB já está em fase de inscrição, buscando novos participantes.A constatação deste fato me despertou a seguinte indagação: os reality shows, que como o nome sugere, deveriam nos ilustrar com cenas da realidade humana, realmente o fazem??? O tal discurso vivido por ex-participantes de que “o BBB foi uma experiência de vida enriquecedora” é mesmo algo válido? Vejamos...

Eu não sei você meu caro leitor, mas eu não me lembro de alguma vez na minha vida estar numa casa bacana como a do BBB, vivendo junto de mais uma dezena de pessoas que eu nem sabia que existiam. Quando no muito uma casa brasileira tem como moradores mais de dez pessoas, ela geralmente não passa de um casebre de pau-a-pique no sertão do agreste nordestino, ou de uma casa feita de papelão e pedaços de tábua em alguma favela de um grande centro metropolitano. E geralmente os “participantes” deste BBB de miséria são crianças, que dividem o pequeno espaço de “salacozinhabanheirocopaquartotudojunto" de 10m quadrados com seus 8 irmãos além do pai de da mãe.

Outro fator agravante é o de que no BBB não se faz absolutamente nada. Sim, ninguém esquenta a cabeça com nada. Não é preciso trabalhar, exceto em uma ou outra prova a qual os participantes devam se submeter para conseguir um privilégio, como comida, por exemplo. No mais, cerca de 95% do tempo de estadia na tal “casa mais vigiada do Brasil” representa um tempo ocioso recorde na vida daqueles que lá estão. Um tempo livre como este é uma dádiva que qualquer ser humano gostaria de ter em sua vida, tendo como seu valor quase que o de um tesouro. Mas para que realmente valha a pena, (tal como na Grécia antiga da era Socrática), o tempo ocioso deveria ser aproveitado em atividades de cunho afetivo, como uma confraternização entre amigos ou família, por exemplo; De cunho cultural, como a apreciação de uma forma artística de valor para o indivíduo; De cunho saúde, com atividades que garantam uma manutenção do bom estado de saúde física e mental; Ou então de cunho filosófico/reflexivo, numa tentativa de assim perceber e buscar novos conhecimentos. Mas não meus amigos, nada disso passa nem perto do que os BBBs fazem dentro daquela casa. Confraternização entre eles, só da forma mais vazia possível, em festas regadas a muito álcool e hormônios, para que assim a Globo atinja seus picos de audiência quando algum casal participante decida pisar além da linha da moralidade, casal este que a algumas horas antes nem existia, e mais, era inimigo mortal numa daquelas panelinhas que se formam lá dentro para aproveitar o tempo livre de forma a criar boatos e intrigas sobre outros participantes. Já na parte cultural, o que mais tenta sofregamente se aproximar disso é quando algum artista (sendo que a maioria nem pode ser chamada assim) resolve visitar a turma como, por exemplo, a hiper arroz de festa Ivete Sangalo ou seu clone mais próximo, Claudia Leite, comparecem para animar uma das orgias com suas músicas de gosto duvidoso. No que diz respeito à saúde, os BBBs até que fazem exercícios físicos, sendo que a maioria é até “marombado”, mas é só. A vontade é somente esculpir um corpo belo, como forma de chamar a atenção dos outros. Interesse em manter saúde passa longe dos objetivos. E também, do que adianta, um corpo esculpido no Olímpo, quando o cérebro parece ter sido cozido num forno de senzala, tal a futilidade apresentada. E por último, na parte filosófica/reflexiva, nada realmente acontece. No máximo um “em quem eu deveria votar hoje?” é o que cada participante se pergunta a si mesmo. Ao contemplar toda essa experiência vivida pelos BBBs, o que eu percebi é que a vida deles não se assemelha em nada com a de um brasileiro mediano. Assemelhasse sim à vida de um político ou magnata menos cotado: nenhum trabalho e muito tempo livre, sendo que este é aproveitado para tentar manter uma imagem bonita aos olhos dos outros, acumular privilégios e criar estratégias que possam assegurar uma forma de conseguir se dar bem e ao mesmo tempo passar o próximo para trás.

Eu poderia passar dias aqui enumerando mais e mais motivos para mostrar que o Big Brother Brasil não passa de algo que está à quilômetros das vidas de nós brasileiros normais, que não somos ricos, trabalhamos como verdadeiros burros de carga, não temos tempo livre e nem corpos de deus grego, mas julgo que estes exemplos citados acima já transmitem de maneira lúcida o que é então o tal reality show: algo deslocado de qualquer realidade, se não a deles mesmos lá dentro, onde ganha o prêmio quem mais se mostrar ignorante, trapaceiro, futil e duas caras possível. E quem não ganhar o prêmio pode pelo menos usar agora de seus 15 minutos de fama e da triste alcunha de “celebridade” para tentar agarrar uma teta em algum modo de mídia, como assim fizeram as belas e simpáticas (mas desprovidas de qualquer talento), Sabrina Sato e Grazi Massafera.

A verdade meus caros leitores não é outra se não esta: o Big Brother não passa de uma das mais poderosas ferramentas no show de burrificação ao qual todo brasileiro está exposto todos os dias através de seus meios de comunicação. Um programa que somente promove a chance de que jovens de corpo sarado e mente vazia possam dar alimento ao sonho de se tornar famosos, sem que, entretanto, precisem dispor de qualquer conteúdo e talento, podendo assim usar de formas chulas para chamar a atenção, como a exposição de seus corpos seminus ou de suas ignorâncias, tudo em rede nacional. BBB é um programa que não representa nada, mas simplesmente nada de engrandecedor, nem para aqueles que lá estão, quão pouco para aqueles que o acompanham de suas casas. E digo mais: pior que os que dele participam, são aqueles que assistem este tipo de programa, que na minha opinião deveria ser proibido de ser veiculado até em experiências com chimpanzés lobotomizados. Pois por mais nojento que este argumento seja, lá dentro da casa eles concorrem a 1 milhão pela burrices que protagonizam. E você que assiste BBB, ganha o que pela burrice a qual é exposto?

domingo, 15 de agosto de 2010

Música Para Todo Mundo Ouvir


Texto por Álvaro Freire Samways


Com os avanços tecnológicos advindos na pós-modernidade, ouvir música deixou de ser um ato possível somente dentro de sua casa, perto daquele aparelho de som que trazia além do rádio, um reprodutor de mídia física (primeiro os discos, depois as horrorosas fitas K7 e por último os cds). Para mudar esta história vieram primeiro os paleozóicos Walk-Mans (quem da minha geração não lembra do famoso modelo amarelinho da Sony, que virou moda entre os jovens da época?), e mais posteriormente, com a ascensão do Compact Disc, os Disk-Mans (nos quais bastava um esbarrão para que o cd tivesse um erro de leitura por parte do aparelho). Hoje temos muito mais comodidade e qualidade na hora de levarmos nossa música favorita conosco para a rua, pois com a criação da música virtual (sem mídias físicas que pudessem riscar, empoeirar, arrebentar, entre outras tragédias), e a popularização do formato MP3, os aparelhos desse mesmo nome puderam substituir com finesse seus ancestrais, permitindo ao ouvinte levar consigo uma quantidade muito maior de músicas, ocupando bem menos espaço, num formato anatomicamente muito mais confortável, e sem aquele perigo “da música parar por causa da freada brusca do ônibus”. Isso por que eu nem citei o Ipod, que para muitos foi a maior invenção desde a televisão e o computador.


Até ai tudo ia mesmo muito bem, com cada indivíduo equipado com seus fones, ouvindo aquilo que lhe agrada, num volume que lhe é desejado. Mas aí aconteceu o fato que viria a mudar radicalmente este cenário: a invenção do celular com MP3, com a posterior evolução dos aparelhos de MP3/MP4. Esses aparelhos vieram pra reproduzir, em tamanho miniaturizado, a mesma coisa que a onda chateante do som automotivo causou: a falta de respeito para aquele que está ao lado e não quer ouvir a mesma música que você. O stress provocado por esses dois tormentos só é semelhante ao provocado quando se percebe a música sendo ouvida pelos energúmenos que cultivam este tipo de comportamento, que geralmente é de pior qualidade que suas aparências.


Eu me questiono seriamente sobre o motivo que leva alguém a fazer tal tipo de coisa, e acabo chegando a vários deles. Entretanto, o que deveria constituir o mais óbvio, esse nem passa como uma alternativa, que seria: vontade de ouvir música. Sim, é isso mesmo que você acabou de ler!!! Quem coloca um som assim, em pleno ambiente público, em volume alto a ponto de perturbar as sinapses alheias não está interessado em ouvir música!!! Bom, agora deixe eu lhe explicar os motivos.


O primeiro é que, quem está com um som alto, seja em seu carro “socado” ou em seu celular MP15, NUNCA está prestando a atenção na música (embora eu realmente ache que são raros os casos onde um indivíduo que faz isso está de fato ouvindo algo que possa ser chamado de música). Ou ele está dirigindo sua saveiro cheia de som, ao mesmo tempo que fica olhando para a calçada para ver quantos indivíduos o estão observando, ou está encostado nela tomando uma cerveja, numa pose de guerreiro-deus Thor após vencer uma batalha, enquanto bate papo com seus outros colegas que também são chegados em coisas idiotas e vazias tanto quanto ele. Já quem anda com o celularzinho com música, está mais é prestando a atenção em sua caminhada, também de olho nas menininhas que vão achar ele um cara descolado, ou então nos garotos que vão lhe dar uma cantadinha vulgar pra qual ela fará cara de nojo, mas com o fundo de sua alma sentindo enorme prazer, isso caso seja uma menina (o que é mais ridículo) ao estar em tal ato de bestialidade, além de que quem faz isso está completamente exposto à poluição sonora típica das ruas, o que torna o ato de realmente apreciar a “música” de seu celular algo quase impossível. Quem realmente está interessado em poder apreciar suas músicas favoritas enquanto caminha pelas ruas usa fones!!!! Eles sim garantem uma apreciação musical mais satisfatória, livre dos ruídos sonoros que irão atrapalhar este ato, embora ruas ainda não sejam o melhor lugar para se ouvir música. Quanto a quem está dirigindo, e com o som de sua máquina em alto e (nem tão) bom som, a primeira coisa a se dizer é que música em carro é entretenimento para os passageiros, pois a atenção que demanda o ato de dirigir torna impossível uma boa apreciação musical por parte daquele que dirige. Portanto se você vê alguém dentro de um carro sozinho, dirigindo, e com o som berrando, pode saber que ele não está ouvindo a música que está sendo vomitada pelas suas cornetas e subwoofers que lhe custaram todo o salário de um mês, ou no caso dos playboys, o dinheiro da mesada.


O segundo motivo é que esse tipo de pessoa não tem um verdadeiro senso de apreciação musical, sendo que na verdade geralmente nem sabem o que isso significa. Contemplar uma música é algo muito mais denso do que aquela euforia de cantar a letra corna do sertanejo das baladas de quinta-feira, ou dançar o "créu" na velocidade 5 quando a criatura que se diz vocalista assim ordena. Apreciar músicas de maneira correta é primeiramente saber distinguir o que é música e o que é lixo, o que de fato é arte do que é oportunismo e vontade de encher o bolso. Atingida esta etapa, o que vem depois é o ato de se deixar levar pelo que está sendo tocado, prestar a atenção em todas as minúcias da composição, mas não de maneira proposital (como é de característica principalmente de alguns músicos, que ouvem toda música como se precisassem “tirar” ela para tocar com sua banda). É se deparar com a toda a excelência harmônica, melódica e poética da canção de forma espontânea, intuitiva, numa conexão diria eu espiritual com o que esta sendo passado pelo artista em seu trabalho. Ser tomado pelo sentimento que a canção exprime, passando a sentir o que a música quer transmitir, esteja isso em concordância com o que o artista que compôs tal obra pensou no momento em que estava criando-a, ou não. Seja nos gritos de “Calm Like A Bomb” de Zack De la Rocha protestando no Rage Against The Machine, ou pelas sutilezas românticas das harmonias de Tom Jobim em “Garota de Ipanema”, pela potência vocal de um Fred Mercury cantando “We Are The Champions” com o Queen, ou na poesia incrível escrita e entoada por Eddie Vedder, cada vez que o Pearl Jam toca “Black” em um de seus shows. Sei que parece shakeaspeariano demais, mas é por que isto é de fato algo um tanto complexo, e que cada a dia vemos menos.


E é fácil distinguir quem realmente sabe apreciar a boa música que está sendo emitida, daquele que nem sabe o que está saindo do seu aparelho de som. O primeiro indício é justamente que música está sendo veiculada pelo aparelho de som/celular/som automotivo/e sei lá mais que diabos do tal indivíduo. O cara que coloca um cd do Furacão 2000, da Lady Gaga, do Fernando e Sorocaba, do Sorriso Maroto, do Parangolé ou do Restart (só para citar algumas entre as inúmeras "podreiras" que infectam nosso mercado musical) para tocar, não é alguém que realmente aprecia boa música. Na verdade ele nem aprecia música, por que gente do nível desses caras acima citados nem chega a fazer música. O que eles fazem é simplesmente lixo. Feito pra vender por algumas temporadas, enriquecer “artistas” (favor ler essa palavra com todo o sarcasmo e ironia que existe em seu ser) e empresários, manobrar gente pouco pensante a consumir suas pseudomúsicas e as modas que advém de seu modo de ser (roupas, modo de falar, de cantar, etc).


O segundo ponto que indica se uma pessoa sabe apreciar música é o volume em que está sendo ouvida a dita música, juntamente com a forma com a qual o cidadão está se portando para com ela por isso. Quem quer apreciar as músicas que gosta não coloca no último volume seu aparelho de som, por que não há necessidade disso, e até por que se sabe que quanto mais um aparelho é forçado em seu limite sonoro, mais ele perde em capacidade de manter a reprodução da música com qualidade. Quem quer curtir seu artista favorito coloca o som em um volume moderado, que lhe permita ouvir tudo com clareza, e esse volume quase sempre não é um volume que chegue a incomodar as pessoas ao seu redor (como os vizinhos por exemplo). Daí você pode me indagar: “Bem, mas há quem curta som num volume bem alto, dançando e cantando, o que você me diz disso?”. A resposta está justamente na pergunta. Quando um indivíduo está a ponto de querer acompanhar sua tão amada música, seja cantando ou dançando, significa que um volume maior de massa sonora deve realmente ser empregado na hora de sua reprodução.


E para a nossa primeira pergunta, que diz respeito aos motivos que levam uma pessoa a colocar som alto em ambientes públicos, a resposta mais aguda e fidedigna é a seguinte: esta pessoa é simplesmente alguém que não tem espírito crítico nenhum, uma pessoa totalmente desprovida de personalidade, que, por viver num mundo dominado por idiotas, aprendeu a achar isso bom, e agora quer somente repetir o que estes idiotas estejam achando legal fazer naquele momento, seja isso legal realmente ou não. Ela só quer ser mais uma pessoa “descolada”, “da hora”, “maneira”, para quem o bando de idiotas já assumidos olhe e diga: “poxa, esse cara é legal, vamos chamar ele pra andar junto de nós!”. Ela só quer entrar para a alcatéia de gente babaca, gente esta que foi burrificada pela exposição diária a doses de ignorância massiva, veiculadas por uma mídia popular especializada na formação de ignorantes desprovidos do mínimo de criticidade e de personalidade. Pessoas que acham que um dia serão alguém, mas querem chegar a isso tentando ser como a maioria, sem nem saber se isso é bom ou ruim (claro, pois como foi dito, elas não sabem mais criticar). E eu e você, seres pensantes, sabemos claro, que isso é ruim. A cena mais patética é você passar por uma roda de pessoas com copos na mão, o carro com o som em sua potência máxima, obrigando tais pessoas a conversar aos berros, sem nem prestarem a atenção à música. Isso é o que eu chamo de “síndrome de comportamento musical de baladeiro”. É um mal que se explica pela necessidade que uma pessoa (em 100% dos casos de vida vazia) sente de estar o máximo de tempo num ambiente que lembre uma balada, pois lá ela se sente alguém legal, visto que longe de um ambiente onde praticamente todo mundo é um babaca, ela naturalmente se sentirá como o imbecil que ela é na realidade. Por isso ela encosta seu carro em frente a sua casa (ou de um amigo), reúne a “galera do fervo”, coloca músicas ruins numa altura que atrapalhe seu diálogo com alguém próximo e ao mesmo tempo irrite os vizinhos, leva um isopor cheio de cervejas no porta malas e fica jogando charminho barato para quem quer que passe pela rua no devido momento em que toda essa tosquice está sendo protagonizada. A música nestes casos é só um barulho, que todo baladeiro sente necessidade de ter sendo percutido em suas orelhas pouco sensíveis. Qual é a música sendo reproduzida é o de menos, algo de importância nula eu diria. Por isso quando alguém passar ao seu lado com um celular berrando uma “música” de gosto duvidosíssimo, rodeado por amigos em um papo sobre o porre de anteóntem, saiba que você está diante de um idiota tentando se inserir no contexto, e sim, tentando chamar sua atenção para tal fato. Pior mesmo que este fato lamentável é o de que a maioria da população hoje é constituída por pessoas assim. Que Deus nos ajude no futuro que ainda está por vir, pois pelo que parece, será uma ditadura da ignorância.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Cds (Lançamentos) MASTODON



Mastodon

Crack The Skye

(Reprise Records)

2009

Ultimamente o bom e velho Rock Progressivo parece estar despertando novamente atenções, tanto de mídia quanto de público, embora possamos dizer que tanto esta mídia, quanto este público, não são necessariamente a maioria da população, o que eu diria, é muito bom. Bem, fiz este comentário devido a boa safra de novas bandas que surgem apostando em um som mais complexo, como faziam as bandas clássicas de Prog no passado, sem porém deixar elementos artísticos modernos de lado. Depois dos bons lançamentos do The Mars Volta nos últimos anos, foi a vez do Mastodon conceber um novo álbum de estúdio representando esta bandeira do novo Prog. E o gênero não poderia estar melhor representado.


Crack The Skye precisa de apenas 7 faixas para nos mostrar uma verdadeira obra conceitual, e uma aula de como se fazer Prog Metal, unindo elementos progressivos de bandas do passado como King Crimson e E.L.P, com elementos mais metal de gente como Slayer e Metallica. Temas como projeção astral, Rússia antiga, perda e desgraça recheiam o disco, visto que ele foi concebido justamente num momento difícil da banda, onde seus membros estavam enfrentando os mais variados demônios interiores. O guitarrista Brent Hinds foi parar no hospital por conta de uma inexplicável doença estomacal, além de ter sua mulher sido atropelada pro um carro. Brann Dailor, o baterista, viu sua mãe ser despejada, seu padrasto falecer, e sua irmã sofrer uma overdose de pílulas calmantes. Um cenário assim poderia fazer uma banda ruir, mas os membros do Mastodon conseguiram transformar tudo isso no mais impressionante álbum de suas carreiras.


Com produção de Brendan O’Brien (bem conceituado por seus trabalhos com artistas do porte de Rage Against The Machine e Audioslave, por exemplo), e composições incríveis, o disco nos mostra ainda timbres muito bem gravados e partes meticulosamente pensadas, como fica bem claro já na belíssima faixa de abertura “Oblivion”, que traz o baterista Brann Dailor cantando as estrofes com uma ótima voz, lembrando os melhores momentos do Tool.


De contrapartida “Divinations” , a mais curta do disco, é muito mais direta, tendo mais do peso do trash metal em seus arranjos, seja nos vocais agressivos ou em seus timbres pesadamente distorcidos, além de timbres maravilhosos durante o solo de guitarra. Uma grande canção. Em “Quintessence” as coisas voltam a figurar do lado prog, numa música com tantas mudanças de clímax que é até difícil entendê-la num primeiro momento, com um instrumental incrivelmente conciso, formando um bloco sonoro tão denso quanto uma pedra de diamante, numa música capaz de tirar o fôlego dos mais desavisados.


Em “The Czar”, com seus 10 minutos de canção, os temas tomam rumos mais depressivos, com uma belíssima intro que logo será guiada para um crescendo que tornará as coisas muito mais punch, sendo impossível não lembrar do King Crimson. Uma canção com tantos contornos só me faz pensar no enorme trabalho de ensaios pelo qual a banda deve ter passado antes de entrar em estúdio. Em seguida vem a musculosa “The Ghost Of Karelia”, melhor do disco, com uma intro em timbres maravilhosos de guitarra por parte da guitarra de Brent Hinds, para em seguida cair num instrumental poderosíssimo, totalmente ao estilo do fusion, num ponto que faria o pessoal da Mahavishnu Orchestra se orgulhar.


Em seguida vem “Crack The Skye”, a música que dá nome ao álbum e talvez por honra de carregar este título, sendo assim sobre a qual mais se constroem expectativas, seja a mais fraca no cd, não estando no nível das outras, o que nem por isso faz dela uma má canção, pois apesar de tudo ela possui belos timbres, e um excelente clima soturno, sendo sozinha melhor que praticamente tudo que se apresenta como “rock mudérrrrrrno” nos grandes veículos de mídia. Pra fechar o álbum a gigantesca “The Last Baron”, que apesar de possuir 13 minutos (que a título de curiosidade foi gravada inteira “ao vivo dentro” do estúdio), não torna-se monótona em momento algum, usando, pelo contrário, o tempo ao seu favor, pois cada vez mais tem-se vontade de que ela permança tocando, e não acabe a audição de tão maravilhoso disco.


Além da ótima audição pela qual o ouvinte prazerosamente irá passar, o álbum ainda possui outras recompensas, como seu belíssimo encarte (que na versão LP é ainda mais impressionante), com a arte conceitual de Paul Romano que traz temas pertinentes a Rússia Antiga e à Média Ásia. Se você ainda tem uma agulha, vale mesmo muito a pena comprar a versão vinil.


Crack The Skye é, sem sombra de dúvida, um dos melhores trabalhos de rock desta década onde tanta coisa tenebrosa se apresentou como a evolução do “rock and roll”. Se estas porcarias coloridas realmente são a evolução (ou involução melhor conceituando) do rock, eu prefiro fazer como os caras do Mastodon, e buscar inspiração no passado, para ser exposto à verdadeira arte, como fui neste maravilhoso Crack The Skye.